nada acontece no seu corpo
nem no coração
sua mente está vazia
ele olha o infinito
a vida é tranquila
não pede o mundo
não exige o impossível
a paz achou seu lugar
para receber
o encanto do amor...

o tempo
estranha coisa
as vezes palpável
as vezes correndo
ou lento
as vezes louco
ou são
escapa por entre
os devaneios
ou é preso
no meio do olhos
tempo delícia
tempo doloroso
tempo quente
tempo demorado
tempo criança
tempo memória
tempo tudo
tempo nada
tempo
só tempo
pra sentir
e depois
morrer em paz...

no canto do quarto
estava o vazio
o tormento do escuro
na mente cansada
nem palavra, nem nada
saia da boca caída
o turbilhão do peito
aplastava o corpo
que teimava
em ficar no fundo
maior que a vida.
o tempo passa
o tempo dói
o tempo achata
o tempo destrói
o tempo concerta e ilumina
e finalmente
a janela se abre...

era um entardecer explêndido
o céu tinha várias cores
e voce estava no meio delas
misturado nas nuvens
meu corpo pedia aquela luz
meu sonho era o vento
que batia no meio das pedras
e eu ouvia
o sussurro da sua voz
dentro do meu coração
seu rosto estava na água
olhando pra mim
e tocando
no que tenho de mais belo
seu corpo ondulava junto com o reflexo
trazendo o cheiro
da sua beleza
e a noite veio
aquela estrela chegou
e trouxe voce pra mim
andando como um homem...

Parada aqui
diante de duas figuras amarelas
agonizando
presas num mar de flores
imagino o dia lá fora.
no pé da minha porta
folhas cor-de-rosa
trazem um pouco do sol para dentro
vidas passam diante dela
procurando cada uma
seu desejo
as fagulhas de som
deixam escapar
a vontade amar
estampadas nos olhos
doces e clamantes
o vento acaricia
peles nuas cheias de calor
cor-de-sangue
dizendo para o tempo
que ele tem que esperar
porque o dia lá fora
é lento como o entardecer...

o sonho entra no corpo como um nascer de sol
amarelo, vermelho
quente, radiante
está sempre ali
todos os dias
insiste
em nos fazer lembrar que hoje
é mais um dia de sonhar
mais um dia que o coração bate forte
em pensar no que podemos conseguir
pensar que está perto
e quando ele chega
podemos tocar o sol...


Ana

tento conter meu sonho
pra ele não escapar
do meu corpo
não se dissolver
no meio
das bolhas
cheias de angustia
e medo
tento
dizer as pessoas
que não me deixem
que quero fazer meu sonho
ser como o delas
um sonho
cheio de realidade...

chove...
a vida se abre com ela
o tempo permite
a entrada de sorrisos
brilhos
amores
amigos
o orvalho molha os lábios
do desconhecido
a musica do vento
chega no coração
de quem já perdeu os sonhos
atiçando
o que já era perdido
fazendo crescer
a continuidade
do que já tem
paixão
e sabe
que chove...

uma dor profunda
um vazio enorme
o olhar distante
o céu grandioso
bate na sua porta pedindo
clemência
dizendo para deixá-lo entrar
para preencher
todo o seu ser
a água do mar espera
para levar tudo o que
está massacrando
tudo o que é negro
seu perfume quer
entrar pelos poros
e transformar morte em vida
respire
sinta
olhe
coma
foda
beije
abraçe
louco
a musica sai
suave e macia
pelos olhos
que fitam algo
que é misterioso
que nunca sabe...
que é confuso
duvidoso
ela está sozinha
dentro da sua mente
aonde quer
que esteja...

um vôo baixo
lento e pesado
os olhos buscando
uma esperança
um pedaço de algo
alem da neblina
uma pedra, um brilho
um pouso, um descanso
um semelhante
um olhar
uma asa
o cheiro de amor
um dia de sol
ele avista uma folha verde
no meio do vento forte
e custa a tocá-la
a noite é fresca
o orvalho toca a garganta
com gosto de abraço
ele chegou
seus pés tocam a madeira quente
do dia radiante
e vai morrer ali
com o coração satisfeito
orgulhoso e tranquilo...