deserto
céu azul
nenhuma nuvem
para dizer que
a chuva
vai aliviar
a pele morena
com uma casca grossa
e selvagem
a boca seca
o olhar longe
tentando encontrar
alguma esperança
alguma vida
outro cheiro
outro olhar
e sonhos
do verde que já foi
dos erros que ele fez
o deserto insuportável
infinito
e ele não tem mais força
nem pra chorar...

um pedaço azul puro de céu
caiu nos seus olhos
ela juntou o azul
com o amarelo do sol
e enxergou o verde do mar
perto do seu sonho
sentada na areia
escutando o som do seu coração
viu no horizonte
a certeza
de poder sentir a vida
e ser feliz
tão simplesmente
como o toque da areia
nos seus pés...

o mundo levita
eu giro
no meio do mundo
no meio das emoções
no meio das sensações
eu levito
dentro de cada corpo
de cada coração
de quem não conheço
de quem adoro
de quem amo
eu amo
todos os olhares
todos os cheiros
todos os gostos
todos os corações
e me inclino
a cada gesto
de humildade...

Paraty, noite de sexta-feira, um dia qualquer do começo da primavera...

o sol se põe
e no dia seguinte
brilha novamente
e a mente escura
ficou no vazio
atormentada
torturada
com a ignorância
de não achar
de não procurar
de não ter vida
e de longe
ela olha a gaivota
voando
para simplesmente
continuar sorrindo
feliz
para o nascer do sol...

no meio do turbilhão de emoções
dos corpos molhados e brilhantes
vozes sussurram, gritam, pedem
olhares se cruzam
sorrisos suaves
mãos se levantam devagar
para acariciar
a luz ao redor
eles estão no fundo azul
dançando para o coração
quando o mundo
já não existe mais...

nada...
o tempo passa e
nada...
ele parou de voar
agora sua vida
dilacera
perde o brilho
diante do mesmo
do cinza
e do pouco verde
que consegue enxergar
o céu azul
agora só tem um pedaço
ele está cansado
e confuso
com medo
de não poder mais
salvar sua
mente...

a lua amarela
subia no céu negro
cheio de estrelas
eu dançava
ao som do mar
sentindo o cheiro
do ar fresco
da noite
flores vermelhas tocavam
meus ouvidos
e o vento suave e quente
me levava
pra dentro
de mim mesma
pra sair
e dividir
a lua com o mundo...

E.

os sonhos saem pela pele escura
chegam aos ouvidos de todos
os que ela quer encantar
a beleza agita o coração
dos mais cegos
a graça toca os olhos
como uma nuvem no vento
e sobretudo, ela tem a verdade
que faz o mais insensível
se derreter...


Anapleiades

uma porta
no fundo de um longe
uma flor
no meio da porta
azul
atrás da flor
um menino
cheirando o ar
verde
dentro da porta
uma menina
junto com o menino
uma mulher
um homem
todos nus
brincando
na água
da inocência
do mundo novo
aonde só resta
uma porta...

a vida estaciona
o mundo termina
eu olho tudo vazio
não existe mais nada
nada se move
nem as folhas das árvores
não existe vento
tudo está escuro
mas em algum lugar
alguem respira
para continuar
para contar
e talvez
consertar...

o cheiro me deixa tonta
como se eu caisse
num abismo de flores
eu nego o olhar
ele me agarra
e eu escapo
ele volta
o toque
penetra nos poros
da respiração
o coração estraçalha
bate tão rápido
que faz o tempo parar
no momento do vôo
do grito selvagem
quando nada importa
só ele...

no meio do tormento
talvez ache uma saída
no meio das cores da tv
que me deixam inutilizada
anulada, amortecida
sem enxergar
o movimento do céu
o vento gelado
o mar
a vida
talvez um dia
o universo decida
que eu deva novamente
experimentar
viver plenamente...

um gato
dengoso e sensual
atravessa o jardim
numa noite estrelada
ele tem olhos verdes e olhar profundo
tem cheiro de coito
cheiro de selvagem
seu pêlo é escuro
e roça seu corpo em mim
começa pelos pés e sobe pelas pernas
é quente
me morde nas coxas
e quando abre minhas pernas com sua pata ousada
eu o beijo e aperto seu peito contra meus seios
ouvindo as delícias que ele fala...

o ar que respiro
passa pelo teu nariz
minha mão
entra no teu coração
segura teu peso
etéreo.
voando pelo quarto
junto com meu olhar
voce me segura
em cima das suas pernas
entrelaçadas com as minhas
os olhares no meio dos braços
cabelos passando pelo corpo todo
numa mistura de sons
que faz força
pra não terminar...

o ar tem novo sabor
o olhar descobre
os sons são intrigantes
o toque macio mas áspero
o frio é acolhedor.
no céu
um azul firme e penetrante
o tempo está parado
a lua clara
diz que a solidão
é macia e suave.
a espera
aprender...

deixei o mar...
estou no mesmo lugar
faz tempo suficiente
para sentir o gosto da terra
e lembrar
do cheiro da chuva
do orvalho na grama
e dos meus pés pequenos
brincando no molhado
a pipa no céu
e o horizonte verde
hoje
meu coração acelera
pensando
em tudo o que tenho para descobrir
e me encho de paixão pela vida
olhando o azul forte do céu
através das folhas das árvores
deitada nas nuvens...

se ele me chamar de volta
vou deixar que a água
envolva meu corpo
e dançar no azul brilhante
como uma menina
de novo...

o tempo insiste
não quer largar
não quer deixar ir embora
o mundo que
ficou pra trás
os sonhos de criança
o toque de menino
a timidez de menina
o cheiro do mato
de terra
e a inocencia
que perdura.
depois de uma vida
a imagem ainda aparece
como uma tela
numa nuvem colorida
dentro dos meus olhos
e me diz que
amigos sempre
irão existir...