sexta-feira, 20 de julho de 2007

Em Ubatuba acho que realmente comecei a me viciar pelo mar. Fui convidada para dar uma volta de veleiro. Como sou muito organizada, achei que o interior daquilo deixava a desejar para o meu padrão de arrumação e comecei... Meu amigo me observava e achava no mínimo interessante. O passeio foi gostoso, ele me ensinou algumas coisas, tive noções de navegação e tentei dar alguns nós que eu achava que nunca iria conseguir repetir. Me pendurou numa espécie de cadeira que subiu até a metade do mastro aonde fiquei sentada balançando as pernas como uma criança olhando calmamente a paisagem... De vez em quando voltava para dentro e arrumava mais um pouquinho, espaço era o que não faltava, todos com formas e tamanhos diferentes como eu nunca tinha visto. Eu encaixava os objetos nos "buracos" como se fossem peças de quebra-cabeça, era encantador! Meu amigo já começava a achar estranho... Um mundo novo, fascinante e principalmente apaixonante! Quando acabei, ele não reconhecia mais seu barco e me contratou para gerenciar alguns serviços dos quais o barco necessitava. Eu já não era tão estranha!! Mas eu não sabia de nada, não conhecia coisa alguma sobre aquele mundo. O que fazer??! A primeira coisa foi contratar um marinheiro, através dele eu poderia obter algumas dicas, quem sabe... Acabamos nos dando muito bem e ele me ensinou muita coisa, desmontamos praticamente tudo para poder limpar e ver se as coisas funcionavam corretamente tanto nos lugares mais fáceis como debaixo do piso, aonde pude ver a estrutura pela qual se começa a construção de um veleiro. O motor foi colocado à mostra para a avaliação do mecânico. Um outro cara veio instalar as gaiútas novas (janelas do deck) e fazer algo no mastro, o eletricista ficou atrapalhado com a quantidade de serviço e o marceneiro decidiu que faria o resto depois do ano novo porque o tempo era pouco, começamos em meados de novembro e o barco deveria estar pronto para o natal. Um certo dia o dono da marina me perguntou o que eu estava fazendo e então expliquei que gerenciava os serviços e ele disse: estranho, nunca vi uma mulher fazendo isso!! Realmente, naquela época não havia muitas de nós fazendo esse tipo de coisa... Pedi ajuda para encontrar algumas peças e ferramentas e ele me indicou uma pessoa que morava num outro barco e fui até lá. Encontrei um homem trabalhando no convés, mostrei minha lista e perguntei se ele poderia dispor de algum tempo para mim. Fomos até aonde eu trabalhava, ele olhou tudo com ar de conhecedor profundo, me disse para pegar gasolina e trouxe algumas ferramentas estranhas. Ele me fez desmontar e limpar todas as catracas e fiquei uns dois dias cheirando gasolina!! Alguns dias depois ele me convidou para comer um abacaxi na sua "casa" e pude apreciar o que era um barco de verdade aonde se pode viver e viajar com conforto. Dê me ensinou praticamente tudo o que sei a respeito de náutica nos dez anos que vivemos, viajamos, choramos, rimos, sofremos e sonhamos juntos. Agradeço a ele toda a paciência e perseveransa que teve comigo e espero que ele continue realizando seus sonhos. No dia 27 de dezembro de 1996 saímos de Ubatuba para Bracuhy para preparar uma vida nova. Em julho de 98, numa manhã fria e clara, saímos do Saco do Céu na Ilha Grande para algum lugar, o importante era ir.

3 horas da manhã, o céu estava azul e estrelado, o silencio era profundo, somente o barulho do casco na água, até o ruído do motor era agradável. Estava frio mas não o suficiente para tirar o ânimo de uma saída há muito desejada, o vento batia no rosto como um presente e as estrelas faziam reflexo na água calma do Saco do Céu. O destino era o Rio de Janeiro. Eu encarava tudo como se já estivesse aonde eu queria estar a minha vida toda, tinha intimidade com o mar e com o barco, escutava todos os barulhos estranhos e prestava atenção em tudo o que poderia estar fora do lugar. Sempre olhava tudo com um ar encantado, a esteira branca do barco de noite era mágica, as velas cheias e os instrumentos de navegação eram motivo de muito cuidado.

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