quinta-feira, 10 de maio de 2007

Me lembro que estava com a mente longe, não tinha nada para fazer. A faculdade ficou para trás e eu estava sem nenhuma perspectiva. Conheci um cara que não tinha muito a ver comigo mas era legal e perguntou se eu queria fazer parte da tripulação de um barco numa regata em Santos. Que mistério!!! Comecei a imaginar um barco de tamanho médio e eu sentada em algum lugar que não sabia o nome tomando sol e sentindo uma brisa calma em meus cabelos voando para trás jeitosamente em camera lenta... Ok, vamos lá!!! Entusiasmada, meio sem jeito e sem saber o que fazer porque não conhecia absolutamente nada do assunto me vi no convés de um veleiro no Iate Clube de Santos completamente atrapalhada olhando de um lado para outro para saber o que estava acontecendo. As pessoas ficavam no cais e perguntavam se poderiam fazer parte da tripulação e meu amigo dizia: sim, claro!! entre aí e faça alguma coisa! A correria era geral, arrumar velas, ajeitar os objetos dentro do barco para não voarem literalmente de um lado para outro, abastecer - água, sanduiches, bolachinhas, frutas e, é claro, cerveja para a comemoração. Os tripulantes se amassavam tentando fazer tudo o mais rápido possível. O barco ficou "pronto" e a regata começou. Pelo que eu tinha entendido cada um tinha uma função, piloto, velas, planejamento, etc, não sabia como se chamava nada mas era possível deduzir muita coisa. Eu não sabia, por exemplo que um veleiro normalmente navega inclinado, ou adernado, e que aquele monte de gente que fica sentado na borda serve para fazer peso para que o barco não coloque a quilha para fora da água e vire. O que é quilha!!!????? Queridinha, é aquela coisa que fica debaixo do barco para fazer peso para equilibrar com o mastro e as velas!! disse um dos tripulantes. Com o andamento da competição fui percebendo que o relacionamento das pessoas não era de todo agradável, gritos, climas, palavras não muito bonitas, falta de entrosamento e de colaboração não contribuiram para que chegassemos a algum lugar, tecnicamente falando... Ajudei como pude e no entanto recebi elogios pois, ao que pareceu fui a única que fez algo nesse sentido. O veleiro era pequeno e, na verdade, sua manutenção não fazia parte do livro dos recordes. Quando fui colocar a vela balão para dentro e abri um armário para ver se encontrava uma luva, de acordo com uma sugestão, encontrei uma das coisas que mais odeio na vida - UMA BARATA ENORME!! - em seguida fechei a porta me refazendo do susto e, neuroticamente cuidadosa, continuei trabalhando. Nos anos seguintes nunca vi uma barata grande dentro dos barcos nos quais trabalhei, só as pequenas, elas chegam debaixo dos rótulos das latas, nos cachos de banana e caixas de ovos e mesmo assim foram poucas. O último lugar foi comemorado por mim e meu amigo que resolvemos rir ao olharmos um para o outro e constatarmos o estado lamentável em que nos encontrávamos, ensopados e cansados! Apesar da experiência pitoresca esse foi o início de uma paixão... Velejar, viajar, olhar aquele monte de estrelas no céu, sentir o vento no rosto, o movimento suave e outras vezes firme do barco, o barulho do casco na água e as velas se encherem me deixa maravilhada. É um amontoado de materiais que parece ter vida e ser digno de amor. Comentavamos eu e uma amiga outro dia que velejadores idolatram seu barcos, uma roda de leme não é simplesmente "aquilo" mas um objeto maravilhoso para ser tocado com carinho e admirado!! Somos apaixonados...!!

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