quarta-feira, 16 de maio de 2007











1-
Ele quase toca a ponta da asa na água
à procura de alimento
o olhar atento
observando qualquer movimento sob a água
qualquer vulto, qualquer sombra
voa durante dias
tentando alimentar
o corpo cansado
o horizonte amarelo do entardecer
vem todos os dias
aumentar a fome e a solidão
tranquilo, majestoso, ele faz com que o ar
passe sob suas asas como um carinho
a sabedoria de seus movimentos
veio junto com a vida
tantos anos e o mar nunca se esqueceu dele
em um amanhecer calorento no meio do nada
ele avistou algo curioso
foi até lá e pousou numa forma fria e confortável
olhei para ele, apático sobre o convés
coração batendo forte
e a mente perdida
quando lhe estendi a mão com alimento
ele me tocou e finalmente,
sorriu...

2-
o mastro balança
a crista das ondas é branca como ele
de lá de cima ele olha a água
batendo no casco
e sente orgulho
das alturas inspeciona tudo, casco, brandais,
convés, velas, tudo certo
às vezes um balanço um pouco diferente
perturba seu sossego
mas ele logo identifica o problema
e a solução vem fácil
atrás, um tapete longo e uniforme
mostra sua estabilidade
as velas brancas e cheias
lhe dão um aspecto grandioso
quando o mar se enfurece
e mostra sua face amarga
ele mostra sua coragem
na noite estrelada
respira aliviado
a calma dos deuses
é capaz de seguir por mil anos levando
aquele corpo estranho lá embaixo
às vezes cheirando a peixe
às vezes sorrindo
ou reclamando de tudo
mas que nunca vai deixar de amá-lo
porque ele ainda não sabe falar...

3-
a vida passou e ele sente que agora
está mais vivo do que nunca
contempla a água cristalina e tranquila
do seu lugar mais querido
seu lar, seu ninho
se sente recompensado
por estar ali
apesar das profundas marcas
no seu corpo e sua alma
o coração está em paz
o lugar, espaço e tempo são perfeitos
olha para o lado e ela está lá
falante, atarefada
chorando, sorrindo
muitas lágrimas e aflições
foram necessários para chegar ao sol
o mar levou para longe
tudo o que se deve esquecer
e assim seguem numa alegria
serena e perene
uma chuva atrás de um vento
o dia atrás da noite
e o tempo que já não existe mais...

Ana
13.10.06

Um comentário:

Anônimo disse...

beautiful
I've read just few things your shown me now, but i'll read the rest from home tonight..
you write with such sensibility..
i like it...
but...
GO AND FUN YOURSELF WITH MINE!!!

www.betoaraj.multiply.com

Beto Araj